História do Espiritismo

O que é o Espiritismo?

Allan Kardec em "O Que é o Espiritismo" nos diz:

O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações” e termina por defini-lo dessa forma: “O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.”

Histórico

Ao estudarmos a História da humanidade encontraremos diversos registros que nos revelam que, desde as primeiras comunidades, os homens mostram interesse pelos fenômenos de comunicação espiritual.

Conhecidos em todas as épocas e por todos os povos, esses fenômenos pontilham as lendas, o folclore, os textos religiosos, filosóficos e históricos, descritos através das práticas de adivinhação, evocação de mortos, encantamentos, feitiços, consultas a oráculos ou por registros de sonhos premonitórios, milagres, profecias, visões, dentre outras manifestações.

No período, em que as idéias que dariam posteriormente a base e os estímulos intelectuais e populares necessários para o amadurecimento do Espiritismo eram esparsas, merece destaque a figura do médium Swedenborg.

Emanuel Swedenborg (1688-1771) era sueco e dotado de brilhante cultura geral. Era engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Entendia de Física e Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era zoologista e anatomista. Como financista e político, antecipou-se às conclusões de Adam Smith. Finalmente, era profundo estudioso da Bíblia. Ainda menino, Swedenborg teve suas visões freqüentemente sobre fatos que ocorriam à distância. Em Gothenburg o vidente observou e descreveu um incêndio em Estocolmo, a trezentas milhas de distância, com perfeita exatidão, durante um jantar com dezesseis convidados, o que é um valioso testemunho. O caso foi investigado nada menos que pelo filósofo Immanuel Kant, que era seu contemporâneo.

Evidentemente os ensinos de Swedenborg eram mesclados por idéias ainda vigentes em seu tempo e não transpareciam a totalidade dos conhecimentos que seriam veiculados pelo Espiritismo, mas significavam uma abordagem corajosa e fundamental para se estabelecer uma primeira explanação do que seria posteriormente definido.

Vale destacarmos que para se entender melhor o processo de amadurecimento das idéias espíritas é necessário analisarmos o contexto sócio-cultural e histórico correspondente.

O período mais elucidativo para essa análise é a segunda metade do séc. XVIII e o séc. XIX.

No século XVIII observamos grande ebulição no campo das idéias e no campo da práxis. Duas grandes revoluções aconteceram modificando as estruturas da sociedade, propondo novos conceitos, novas instituições, ou seja, uma nova forma de observar e analisar o mundo e os homens.

A Revolução Industrial transformou profundamente o modo de vida das pessoas. Os hábitos e costumes foram paulatinamente se modificando e se reestruturando pelos modelos capitalistas industriais. Houve uma conseqüente melhoria da qualidade de vida, dos meios de transportes e de comunicações, a substituição do ferro pelo aço, do vapor pela eletricidade, o desenvolvimento da maquinaria automática permitiram maior rapidez, precisão e regularidade. O Homem passava a compreender melhor a natureza e a manipulá-la em seu próprio proveito. Entretanto, não podemos deixar de indicar que essas melhorias foram para uma minoria social, principalmente para a burguesia que concretizou seus objetivos econômicos.

A Revolução Francesa (1789) foi a grande vitória política da burguesia. Política porque conquistou o poder podendo assim controlar melhor o sistema social e por conseguinte agregar os interesses dos mais diferentes grupos sociais envolvidos, direcionando-os para os seus objetivos.

Por volta de 1779, surge o Magnetismo Animal e Mesmer, seu descobridor, defendendo a tese da ação fluídica de um corpo sobre o outro, como base para um método de cura, abre uma porta para o sobrenatural e dá um ponto de partida para as investigações dos fenômenos. Seu discípulo, o Marquês de Puysegur (1787), ao magnetizar um camponês provocou-lhe um transe, sob o qual revelou uma lucidez e inteligência muito superior ao do estado normal, levando-o, assim, à descoberta, por acaso, do Sonambulismo.

Os espíritos continuaram enviando mensagens aos homens. É nessa época que se destaca Andrew Jackson Davis (Nova York - E.U.A - 1826-1910) como personalidade de grande influência na história do Espiritismo. Concorreu com a sua faculdade psíquica e seus livros baseados na revelação dos Espíritos para a popularização das idéias que se tornariam imprescindíveis ao surgimento da Doutrina Espírita.

Por volta de 1844, Davis foi subitamente tomado por um estado de semitranse (fora do corpo) se deslocando para montanhas que se localizavam próximo de sua moradia. Lá, encontrou-se com dois anciãos, posteriormente identificados como sendo Galeno (médico grego) e Swedenborg. Era o primeiro contato com Espíritos desencarnados.

Através da assistência desses Espíritos, Davis elaborou uma revelação psíquica reunida em vários livros sob o título comum de “Filosofia Harmônica”.

Previu o início do fenômeno com as médiuns Fox na madrugada de 31 de março de 1848: “Esta madrugada um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz, suave e forte, dizer: ‘irmão, um bom trabalho foi começado - olha! surgiu uma demonstração viva’. Fiquei pensando o que queria dizer semelhante mensagem”.

A descoberta do hipnotismo, por volta de 1841, reacendeu o interesse pelos fenômenos mas, a interpretação tendeu mais para a Psicologia que para fenômenos espirituais.

Em 31 de março de 1848 ruídos insólitos surgiram de maneira mais ostensiva, na residência da família Fox, na aldeia de Hydesville, condado de Wayne, Estado de Nova Yorque – EUA, de modo a atraírem a atenção pública, inclusive da imprensa, e a tornarem-se objeto de constatação por numerosos observadores, a ponto de marcarem na América do Norte a data do nascimento do que intitularam de Moderno Espiritualismo.

Descobriu-se que as revelações ruidosas partiram do Espírito de um mascate, de nome Charles Rosma, que fora assassinado e sepultado no porão da casa da família dos Fox, adeptos da igreja Metodista, cujas filhas, Margareth e Katherine, eram excelentes médiuns. Naquela noite registrou-se o primeiro diálogo entre as irmãs Fox e o Espírito do vendedor ambulante, tendo um dos presentes, o Sr. Isaac Post, usado pela primeira vez, letras do alfabeto para formação de palavras mediante convenção de que às letras corresponderiam a determinado número de pancadas. Estava, pois, descoberta a “telegrafia espiritual” que foi o processo adotado na utilização das “mesas girantes”.

O acontecimento de Hydesville repercutiu na Europa, despertando as consciências e ao lado dos fenômenos das “mesas girantes” preparou o advento do Espiritismo.

As “mesas girantes”, assim chamadas por se tratar de experiências de comunicação com os espíritos, através de uma mesa, sobre a qual as pessoas (médiuns) colocavam as mãos provocando movimentos. A mesa levantava um pé, outro, girava sob os dedos dos pesquisadores, elevava-se no ar às vezes.
Entre os anos de 1853 a 1855, os fenômenos das mesas girantes constituíam verdadeiro passatempo, sendo diversão quase obrigatória nas reuniões sociais. Segundo o padre Ventura de Raulica, este fenômeno era “o maior acontecimento do século”.

O Professor Denizard-Hippolyte Léon Rivail, intelectual francês, conhecedor do Magnetismo, figura de destaque no meio acadêmico, tomando conhecimento dos fatos e observando neles algo de inteligente, dispôs-se a investigá-los motivando assim, o aparecimento da Doutrina Espírita, da qual foi o codificador sob o pseudônimo de Allan Kardec.

As mesas girantes, mostrando os fenômenos na sua maior simplicidade representarão sempre o ponto de partida da Doutrina Espírita .

Bibliografia

1. KARDEC, Allan. Obras póstumas. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1973.
2. KARDEC, Allan. O que é Espiritismo. 19. ed, Rio de Janeiro: FEB. 1977.
3. DOYLE, Arthur Conan. História do Espiritismo. São Paulo: Pensamento. 1999.
4. FRANCO, Pedro. Espiritismo Básico. Centro Brasileiro de Homeopatia, Espiritismo e Obras Sociais, 1976.
5. GIBIER, Paul. O Espiritismo (ou Faquirismo Ocidental). 3. ed. Rio de Janeiro: FEB. 1980.
6. WANTUIL, Z. THIESEN, F. Allan Kardec. Rio de janeiro: FEB. 1980. vol. II.
7. WANTUIL,Z. As Mesas Girantes e o Espiritismo. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1978.
8. DELLANE, Gabriel. O Fenômeno Espírita, 3 ed. Rio de Janeiro: FEB.
9. Bíblia Sagrada. Centro Bíblico Católico, 31 ed. São Paulo: Ave Maria.
10. JAGOT, Paul-Clement. Iniciação à Arte de Curar pelo Magnetismo Humano, São Paulo. Pensamento.

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